quarta-feira, 27 de agosto de 2008

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(breve comentário sobre pontos finais)

É um tendência, uma mania (quase um talento): destruir as coisas assim que elas começam a se consolidar. Tudo começa com um desejo intenso, uma vontade de dizer coisas bonitas, declarações de eternidade, pieguices, planos longínquos que jamais acontecerão. Depois vem o cansaço, uma farpa insistente no dedão do pé direito, um calo no calcanhar. É assim. Aquele ácido que corrói aos poucos e a gente só sente quando o sentimento já está dissolvido, insípido, incolor e nem um pouco inodoro. Porque o fim nunca cheira bem. Pesa no nariz, pesa no cérebro que não quer mais associar o cheiro com aquele ar de sorvete-de-morango-silvestre e cinema-no-fim-de-uma-tarde-ensolarada. Fica tudo com cheiro de enterro. O mofo que corrói a alma. Por sorte, às vezes sobra a educação que tão bem tenta substituir a afetividade. Restam palavras como “afetividade” & “afeição” & “carinho”, e no fim, a mais temida: “amigos” – (que ainda possamos ser).
Pois bem, amantes quiçá, futuros amigos serão.
Ou não.

Adeus, meu bem.
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(ainda preciso especificar o que é/não é realidade?)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Samba e amor

De chico, falando por mim:
(ele já sabia que eu seria assim)

“Eu faço samba e amor até mais tarde / E tenho muito sono de manhã / Escuto a correria da cidade que arde / E apressa o dia de amanhã / De madrugada a gente ainda se ama / E a fábrica começa a buzinar/ O trânsito contorna a nossa cama – reclama / Do nosso eterno espreguiçar / No colo da benvinda companheira / No corpo do bendito violão / Eu faço samba e amor a noite inteira / Não tenho a quem prestar satisfação / Eu faço samba e amor até mais tarde / E tenho muito mais o que fazer / Escuto a correria da cidade - que alarde / Será que é tão difícil amanhecer? / Não sei se preguiçoso ou se covarde / Debaixo do meu cobertor de lã / Eu faço samba e amor até mais tarde.”

Preguiçosa e covarde: eu faço samba. E, Amor, até mais tarde.

(não é realidade, só uma segunda-feira preguiçosamente saudosa)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Eu gosto de suco de abacaxi com hortelã e você ri quando eu pergunto todos os sabores nas lanchonetes pra só então pedir o de sempre. Você ri e não entende porque eu dou tanto trabalho quando o caminho mais simples de chegar e já pedir “um suco de abacaxi com hortelã com pouco açúcar” é tão óbvio. Assim como quando eu pergunto se eu devo sair de vestido ou de calça e você diz “vestido” e eu coloco uma calça. É que eu te amo tanto e tanto que te testo, pra saber até que ponto você é isso que você me diz ser ou você é apenas aquilo que projeto em você. Porque tem uma hora que a gente não consegue mais separar, sabe? E eu te pergunto se você ainda ficaria comigo se eu fosse de fato quem eu sou e não quem você quer que eu seja. E você não entende, mas seria algo assim, olheiras e cabelos despenteados. Porque eu nunca, nunca mesmo, nunca durmo cedo e estou desenvolvendo uma espécie de pavor por secadores. Mas eu sei que você é muito humano para conciliar amor com aparências assim, então não arrisco os cabelos curtos e cacheados porque você os prefere lisos e longos. Quero saber quando vamos estar no mesmo patamar de ilusões/desilusões, quando poderemos nos sentir mais confortáveis dentro dessas nossas pessoas tão diferentes uma da outra. Quando eu poderei amanhecer e ter certeza que eu posso ser de qualquer jeito. Eu tenho medo, sabe, que os anos cheguem mais rápido do que esperamos e amanhã eu me veja acordando ao seu lado, exatamente como sou. Porque a gente não consegue muitas máscaras às 6 horas da manhã. Às 6 horas da manhã eu sou tão eu, tão mal-humorada, de olhos tão fundos e cabelos tão emaranhados que eu não sei se você vai ser tão capaz assim de me aceitar. Mas eu espero que sim, porque eu te amo tanto e tanto que desistiria até daqueles meus sonhos esquisitos de ter cinco filhos e muitos cachorros e uma máquina de café expresso. Mudaria até esse meu jeito sem-postura de andar e as unhas com esmaltes pela metade. Então você, tão complacente, ri e me diz que me aceitaria de qualquer jeito, ainda que minhas paranóias fossem duplicadas e me chama de boba. E eu, boba que sou, admito as paranóias e durmo mais tranqüila, porque afinal, eu desistiria de tantas coisas por você que até deixaria de ser eu. Mas por deixar de ser eu, eu te perderia. E por te perder... eu me perderia...

(não é realidade, só um dramalhão por licença poética)

terça-feira, 19 de agosto de 2008




Entre os anos
As fases e faces
Se desfazem
Como uma finíssima teia
detruída pelo vento:
O fio tênue da vida
que o tempo carrega.



... Era uma vez um tempo em que ter o que dizer servia pra alguma coisa.

Poesia é uma grande inutilidade.

Parece-me que funciona assim: as pessoas usam a ciência para falar algo difícil de modo que todos entendam; os poetas se usam da poesia para falar algo que todos entendem de um modo difícil.
Por isso vivo sem um pingo de ciência e uma overdose de poesia.
Porque não tem Einstein, Pitágoras ou Bill Gates que formule explicações tão precisas, ainda que difíceis, sobre todas essas dores no canto-esquerdo-do-peito, as alegrias incontidas, enfim.
E quero mais poesia aqui.
Para que os dias continuem a florescer.
Com bem muita rima e nenhuma lógica
Um nonsense esborrando sentido...

O poema é antes de tudo um inutensílio.
Hora de iniciar algum
convém se vestir de roupa de trapo.
Há quem se jogue debaixo de carro nos primeiros instantes.
Faz bem uma janela aberta.
Uma veia aberta.
Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
Enquanto vida houver
Ninguém é pai de um poema sem morrer

Manoel de Barros



Eu completo: sem morrer de amor, sem morrer de dor, sem morrer de vida.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Ego

"Hoje é dia de Maria" :)
A quem interessar possa:

EU

Poses, apelos, posses, melodrama, riso frouxo, olhos mortos, dondoquices enfim.
Tímida, ou chata, ou cheia de si.
Mas que briguenta (!), a paz, serena, sempre.
Até parece.
As opiniões divergem e convergem no ponto de: "não pensei que fosse assim".
Mas é, mas sou.
Não-me-conhece, nem eu conheço, enfim.
São tantas faces, tantos prismas, tantos fins enfins.
Quem-não-me-conhece-que-me-compre.
Eu compro,
Pago caro,
Retiro-me do estoque
E me dou de graça a quem duvidar de mim.

Mas que coisa!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Embaraço

"Pensamentos, como cabelos, também acordam despenteados."


Pensamentos
Assim como cabelos,
Quando não se penteiam,
Ou alguém os esconde
Ou se esconde o alguém.

Não-me-escondo-e-pronto.
Engulam o silêncio:

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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Excessos

Amar pessoas diferentes é fácil, difícil é amar diferentemente a mesma pessoa todos os dias... Complicada e extremamente doce essa tarefinha que arranjei pra ocupar os meus dias. Eis aqui uma eterna aprendiz, pois todo dia você me sorri diferente, me abraça mais forte, me beija mais lento ou mais rápido ou tanto faz. Todos os dias, nas mesmas pequenas coisas, você dá um jeito de dar uma cara nova à cada uma delas. E eu não me importo nem um pouco de te amar diferentemente e cada vez mais a cada dia.
O fato é que deixei de sonhar. E quando durmo, o que se passa em mim é apenas a continuação dos nossos dias...

Cheguei à conclusão que esse blog não é mais meu. Nem eu sou.


"-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também, mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu."


Ainda bem que ele não lê isso aqui!