Entrei aqui por acaso. Aquele mesmo acaso que te faz topar com umas fotografias mofadas e passar horas pensando coisas bobas como o-tempo-leva-tudo-embora ou ja-não-tenho-mais-idade-para-certas-coisas. Entrei aqui como se fosse uma estranha e estranhando cada uma das minhas palavras, como se nunca tivessem sido minhas. Levei quase uma hora para me re-conhecer e tentar lembrar as motivações de cada palavra dita. Confesso que não lembro de todas. Faz um ano e meio que não escrevo. Faz muito tempo que não leio. Minha vida tem girado em torno de pessoas & coisas & trabalho & relações sociais/afetivas que demorei um ano e meio para perceber que faz tempo que não giro em torno de mim mesma. Acho que faz bem esse tipo de egoísmo, esse de olhar um pouco pra dentro de si e se respeitar, se admirar, se entender. Em todas as crises, todas as dificuldades e todas as alegrias também, senti uma necessidade enorme de ter alguém pra quem contar. Esqueci daquela necessidade que eu tinha de ser alguém com quem contar, pra mim mesma. Esqueci como isso aqui faz bem.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
terça-feira, 22 de junho de 2010
Do outro lado da Tarde - Caio F. Abreu
Esse vale à pena cada segundo de leitura.
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Sim, deve ter havido uma primeira vez, embora eu não lembre dela, assim como não lembro das outras vezes, também primeiras, logo depois dessa em que nos encontramos completamente despreparados para esse encontro. E digo despreparados porque sei que você não me esperava, da mesma forma como eu não esperava você. Certamente houve, porque tenho a vaga lembrança - e todas as lembranças são vagas, agora -, houve um tempo em que não nos conhecíamos, e esse tempo em que passávamos desconhecidos e insuspeitados um pelo outro, esse tempo sem você eu lembro. Depois, aquela primeira vez e logo após outras e mais outras, tudo nos conduzindo apenas para aquele momento.
Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou. E foi essa coisa que me levou há pouco até a janela onde percebi que chovia e, difusamente, através das gotas de chuva, fiquei vendo uma roda-gigante. Absurdamente. Uma roda-gigante. Porque não se vive mais em lugares onde existam rodas-gigantes. Porque também as rodas-gigantes talvez nem existam mais. Mas foram essas duas coisas - a chuva e a roda-gigante -, foram essas duas coisas que de repente fizeram com que algum mecanismo se desarticulasse dentro de mim para que eu não conseguisse ultrapassar aquele momento.
De repente, eu não consegui ir adiante. E precisava: sempre se precisa ir além de qualquer palavra ou de qualquer gesto. Mas de repente não havia depois: eu estava parado à beira da janela enquanto lembranças obscuras começavam a se desenrolar. Era dessas lembranças que eu queria te dizer. Tentei organizá-las, imaginando que construindo uma organização conseguisse, de certa forma, amenizar o que acontecia, e que eu não sabia se terminaria amargamente - tentei organizá-las para evitar o amargo, digamos assim. Então tentei dar uma ordem cronológica aos fatos: primeiro, quando e como nos conhecemos - logo a seguir, a maneira como esse conhecimento se desenrolou até chegar no ponto em que eu queria, e que era o fim, embora até hoje eu me pergunte se foi realmente um fim. Mas não consegui. Não era possível organizar aqueles fatos, assim como não era possível evitar por mais tempo uma onda que crescia, barrando todos os outros gestos e todos os outros pensamentos.
Durante todo o tempo em que pensei, sabia apenas que você vinha todas as tardes, antes. Era tão natural você vir que eu nem sequer esperava ou construía pequenas surpresas para te receber. Não construía nada - sabia o tempo todo disso -, assim como sabia que você vinha completamente em branco para qualquer palavra que fosse dita ou qualquer ato que fosse feito. E muitas vezes, nada era dito ou feito, e nós não nos frustrávamos porque não esperávamos mesmo, realmente, nada. Disso eu sabia o tempo todo.
E era sempre de tarde quando nos encontrávamos. Até aquela vez que fomos ao parque de diversões, e também disso eu lembro difusamente. O pensamento só começa a tornar-se claro quando subimos na roda-gigante: desde a infância que não andávamos de roda-gigante. Tanto tempo, suponho, que chegamos a comprar pipocas ou coisas assim. Éramos só nós depois na roda gigante. Você tinha medo: quando chegávamos lá em cima, você tinha um medo engraçado e subitamente agarrava meu braço como se eu não estivesse tão desamparado quanto você. Conversávamos pouco, ou não conversávamos nada - pelo menos antes disso nenhuma frase minha ou sua ficou: bastavam coisas assim como o seu medo ou o meu medo, o meu braço ou o seu braço. Coisas assim.
Foi então que, bem lá em cima, a roda-gigante parou. Havia uma porção de luzes que de repente se apagaram - e a roda-gigante parou. Ouvimos lá de baixo uma voz dizer que as luzes tinham apagado. Esperamos. Acho que comemos pipocas enquanto esperamos. Mas de repente começou a chover: lembro que seu cabelo ficou todo molhado, e as gotas escorriam pelo seu rosto exatamente como se você chorasse. Você jogou fora as pipocas e ficamos lá em cima: o seu cabelo molhado, a chuva fina, as luzes apagadas.Não sei se chegamos a nos abraçar, mas sei que falamos. Não havia nada para fazer lá em cima, a não ser falar. E nós tínhamos tão pouca experiência disso que falamos e falamos durante muito e muito tempo, e entre inúmeras coisas sem importância você disse que me amava, ou eu disse que te amava - ou talvez os dois tivéssemos dito, da mesma forma como falamos da chuva e de outras coisas pequenas, bobas, insiginificantes. Porque nada modificaria os nossos roteiros. Talvez você tenha me chamado de fatalista, porque eu disse todas as coisas, assim como acredito que você tenha dito todas as coisas - ou pelo menos as que tínhamos no momento.
Depois de não sei quanto tempo, as luzes se acenderam, a roda-gigante concluiu a volta e um homem abriu um portãozinho de ferro para que saíssemos. Lembro tão bem, e é tão fácil lembrar: a mão do homem abrindo o portãozinho de ferro para que nós saíssemos. Depois eu vi o seu cabelo molhado, e ao mesmo tempo você viu o meu cabelo molhado, e ao mesmo tempo ainda dissemos um para o outro que precisávamos ter muito cuidado com cabelos molhados, e pensamos vagamente em secá-los, mas continuava a chover. Estávamos tão molhados que era absurdo pensar em sairmos da chuva. Às vezes, penso se não cheguei a estender uma das mãos para afastar o cabelo molhado da sua testa, mas depois acho que não cheguei a fazer nenhum movimento, embora talvez tenha pensado.Não consigo ver mais que isso: essa é a lembrança. Além dela, nós conversamos durante muito tempo na chuva, até que ela parasse, e quando ela parou, você foi embora.
Além disso, não consigo lembrar mais nada, embora tente desesperadamente acrescentar mais um detalhe, mas sei perfeitamente quando uma lembrança começa a deixar de ser uma lembrança para se tornar uma imaginação. Talvez se eu contasse a alguém acrescentasse ou valorizasse algum detalhe, assim como quem escreve uma história e procura ser interessante - seria bonito dizer, por exemplo, que eu sequei lentamente seus cabelos. Ou que as ruas e as árvores ficaram novas, lavadas depois da chuva. Mas não direi nada a ninguém. E quando penso, não consigo pensar construidamente, acho que ninguém consegue. Mas nada disso tem nenhuma importância, o que eu queria te dizer é que chegando na janela, há pouco, vi a chuva caindo e, atrás da chuva, difusamente, uma roda-gigante. E que então pensei numas tardes em que você sempre vinha, e numa tarde em especial, não sei quanto tempo faz, e que depois de pensar nessa tarde e nessa chuva e nessa roda-gigante, uma frase ficou rodando nítida e quase dura no meu pensamento. Qualquer coisa assim: depois daquela nossa conversa - depois daquela nossa conversa na chuva, você nunca mais me procurou.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Dois comentários adiados
Achei isso aqui nos rascunhos do blog. A parte "inadiáveis" do título já existia. Ironicamente! hehe
29/10/2008
Dois comentários inadiáveis:
Infelicidade é apenas uma palavra com um prefixo desnecessário.
Sensatez é uma palavra sem um prefixo indispensável.
Via de regra: (Infelicidade - In) + (Sensatez + In) = resolução de todos os problemas.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Alice
Descobri uma nova crônica de Paulo Mendes Campos. Bom pra aumentar minha lista de citações, já que ninguém me aguentava mais citando repetidamente O Amor Acaba ("em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começara a pulsar..."). Paulo Mendes Campos é uma das pessoas que se destaca pela simplicidade, faz crônicas bobas, leves, diz aquelas coisas que todos nós sabemos mas preferimos não falar. Enfim, descobri Alice. Na verdade, o título é "Para Maria da Graça", mas trata do livro Alice no País das Maravilhas e suas descobertas não tão maravilhosas assim...
Coincidentemente, a minha criatividade para nomes faz com que todas as minhas personagens femininas se chamem Maria. Talvez quando eu tiver uma filha ela também se chame maria e eu não precise continuar inventando situações de uma suposta Maria que eu nunca vi, mas isso não vem ao caso.
O que importa nesse rodeio todo que fiz, é chegar nesse trecho:
"(...) Não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente. E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo."
De fato, o que mais importa é conservar uma boa dose desses tais bolos que nos engrandecem, mas tomando cuidado que o excesso, como tudo na vida, pode dar indigestão. É preciso considerar-se grande, entendendo que aquilo que está diante de você pode também ter a sua dose de bolos ou cogumelos milagrosos.
domingo, 24 de janeiro de 2010
123 caracteres
Quero mudar a cara disso aqui, mas quando mais mexo, pior fica. Quero mudar a minha cara, mas parece que a lógica é a mesma.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Dentro do cúmulo
O cúmulo da desobediência deve ser a gente não obedecer nem a nós mesmos.
Será?
Ando muito desobediente comigo mesma esses dias...
Twitando
Mais uma postagem desse tipo e o blog vira um Twitter.
Não, né?
Me recuso.
Jajá eu retomo o padrão.