Quanta audácia: um vestido azul. Azul é para os puros. Para os que não conhecem o lado podre da vida que levas. Não me apareças mais com essa cor de virgem Maria, dela só tens o nome; ainda se desfazes em graças quando te falam. Não é um elogio, meu bem.
Vê se te escondes atrás de um vermelho tinto. Longo, de preferência. Para que não mostre um centímetro dessas tuas pernas imundas, onde explodem veias grossas e dolorosas: tuas únicas companheiras da madrugada. Tantos caminhos, garota. Tantos caminhos e tu escolheste todos de esquerda. Não vês? Escanteada, cuspida por diversas bocas. Veste esse trapo azul que carregas. Nem o azul te salva.
O que esperavas? Uma taça de vinho fino? Um copo de gelo embebido em uísque escocês?
Esse teu hálito fétido não merece regalias. Essas machas pretas ao redor dos olhos que descem com as lágrimas marcando o rosto. É isso que tu és. Diz que é flor, uma Dama da noite. "Só exala perfume à noite". Hi-lá-ri-o. Dama? Uma Lady, deve ser. Que gracinha. Tantas conversas socio-políticas. Quanta inteligência fingida. Tu és uma máquina. Máquina barata. Sabes quanto me custou?
"Nunca tive p***a de ideal nenhum,só queria era salvar a minha.Veja só que coisa maisindividualista, elitista, capitalista:só queria ser feliz, cara."
NOTA:
Eis a verdadeira dama-da-noite.