Aqui a cidade é quente, meu bem. Nem as noites escapam. Bom pra você que gosta de ver tantas pernas e bundas e peitos socados dentro de mini pedaços de roupa. Roupa? Tapa-sexo. Esconde-sexo-momentaneamente, já que fatalmente todas acabam dando pra você em algum motelzinho barato. As vezes nem isso, ein? Você já me disse que algumas são menos exigentes. Mas não era sobre isso que eu queria falar, já basta desse tema tão recorrente. Já chega dos seus amores tão sem pudores. Não é sobre isso. As noites tão quentes pra caralho. Cada dia mais e eu tenho estado cada vez mais desbocada. Acho que aprendi com você. Você deve ter aprendido com elas, as das pernas de fora. Mas eu já disse... elas não vem ao caso. Eu já disse que pouco me importo com elas? Pois é. Pouco me importo com quem você está nessa noite insuportavelmente quente. Gosto de adjetivar tudo. Enquanto você deve estar socado ofegantemente em algum canto que eu não quero imaginar, eu estou aqui. Fechei as janelas, tranquei a porta. Fui fazer um café bem quente. Não tinha mais, você bebeu todo o resto. Fiz chá. Camomila pra dar sono. Não funcionou. Fechei tudo, nenhum vento, nada que corte esse calor sufocante. Botei uma gola alta, de lã bem grossa. Você disse que não gosta de me ver com pouca roupa. Eu sou diferente de todas elas, ouvi você comentar uma vez, mas isso já faz muito tempo. Fico muito honrada em ser diferente delas. Quem iria gostar de tanta exposição assim? Elas são assim. Elas tem você. Mas eu não me importo. Fico aqui trancada esperando o meu corpo se ensopar de suor, que é pra ver se teu cheiro sai da minha pele junto com ele. Eu não me importo. Não me importo nem um pouco.
terça-feira, 14 de julho de 2009
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