sexta-feira, 29 de maio de 2009

Íris?


Nunca escrevi isso aqui, mas me chamo Ilanna. Íris é apenas a quem eu dou meus sentimentos. Ela os escreve. Íris é uma flor. Rara, por sinal. Me apaixonei por ela aos 14 anos, planejando minha festa de 15. Eu queria tudo azul, vestidos azuis, malhas azuis, borboletas, algodão-doce, tudo muito azul. Com as flores, claro, a cor não poderia ser diferente. Queria flores azuis! Me mostraram as Íris. Elas passaram a ser minha única opção. Queria Íris! Infelizmente, setembro não era a época delas. Setembro era época de Ilanna, não de Íris. E além disso, não se conhecia quem cultivasse tal flor aqui em Recife. Teria que buscar em São Paulo, o gasto seria enorme! Tive que ficar com as rosas brancas (pintadas de azul).
Passei um bom tempo procurando um lugar que pudesse fornecer as flores pra mim. Só pra ter, mas pareciam ser impossíveis. Com o tempo, eu fui descobrir que não eram impossíveis, mas quase.
Em junho de 2005 teve uma feira de flores em São Paulo. Um amigo, na época, descobriu dessa feira e mandou que trouxessem as flores pra mim. Foi um presente muito bonito, não pela beleza delas (inquestionável), mas por todo significado e trabalho que causou.
Decidi que quando eu tivesse uma filha, ela teria esse nome. Íris, a florzinha, a janela da alma...
Passei a usar o pseudônimo de Íris e percebi que ela se tornara parte de mim. De alguma forma, Íris passara a ser um alterego meu, com uma personalidade exatamente oposta a minha.
Ilanna é meiga, geralmente, como diria Clarice, “pede licença para existir”. Ilanna não se impõe. Íris é destemida, corajosa, expõe sentimentos e opiniões de maneira clara e com facilidade.
Íris entende de política, de futebol, fala sem pudores com estranhos. Ilanna "tem muito respeito guardado", como disseram uma vez. Por isso, Ilanna nem sempre se solta, nem vive o tanto que gostaria de viver.
Íris, é, na verdade, tudo aquilo que Ilanna gostaria de ser mas não consegue. Por isso que Íris existe apenas numa ficção exclusivista, já que serve apenas para desabafos que são lidos somente pelas duas.
Viver diariamente na figura de Íris seria arriscado. Ilanna não aceita riscos.
Hoje acho que não colocarei mais tal nome na minha filha. Ainda acho lindo da mesma forma que achava antes e ainda mais significativo do que era, mas o presente não permite.
Talvez porque, as pessoas que vivem o presente comigo consideram que Íris é uma ponte que eu tento criar com meu passado e com uma série de angústias que tento reprimir. Na verdade, Íris é sim uma ponte, mas uma ponte com tudo aquilo que eu sou, mas não mostro.
Ela mostra por mim.